Covid-19
Preocupação, mesmo distante da terra natal
Luísa Borges Moron vive no exterior e acompanha a rotina das filhas durante a pandemia
Reprodução -
Os laços que unem a pelotense Luísa Borges Moron com países da Europa e da Ásia só aumentam a preocupação e a angústia com a situação sanitária mundial. Vivendo com o marido Luc Moron na Cidade do México há dois anos, ela relata ao Diário Popular como enfrenta a quarentena com as três filhas e os amigos que tem em países nos dois continentes.
O abraço de Dia da Mães foi por vídeo e repleto de declarações e promessas de um dia estarem todos juntos e saudáveis. Com a flexibilização na França, o casal não pensou duas vezes e viajou para ficar perto da família.
“Nossa principal preocupação era de que nossas filhas não ficassem sozinhas, uma vez que seria muito difícil enfrentar o isolamento social, além do perigo de adoecerem estando sós. Mas felizmente estão todas bem”, diz, aliviada. Joana, de 27 anos, trabalha em um projeto em Johannesburg, na África do Sul, onde se encontra.
Nina, de 25, faz duplo Mestrado entre Sciences Po em Paris e Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo, sendo que o ano está findado na França, através das aulas virtuais, e a vinda ao Brasil está comprometida. Já Alice, 21, é estudante do segundo ano de Psicologia e Linguística na University College of London. Nina encontra-se em isolamento com um grupo de amigos de infância de Tóquio e Hong Kong, numa ilha da costa da França, Noirmoutier, e Alice deixou Londres para se isolar em Glasgow, na Escócia, junto com a família de uma amiga. O contato é diário através de Whatsapp e Skype, e para alívio de Luísa, as três levam muito a sério a questão do isolamento social.
A viagem
O casal chegou à França no dia 7 e, no avião Air France eram apenas 66 passageiros. “Ficamos surpresos pelo fato de não termos sido submetidos a nenhum tipo de controle especial no Aeroporto Charles de Gaulle, embora tivéssemos preenchido todos os formulários necessários para entrar no país.”, conta. Luísa e Luc decidiram não ficar em Paris, pois o risco de contágio é muito mais elevado em grandes cidades. Durante a viagem de carro, ela conta que as autoestradas estavam praticamente vazias. Foram dez horas de viagem sem nenhum controle. Atualmente os três estão instalados em Le Barcarès, perto da fronteira com a Espanha, onde a família de Luc tem uma casa.
No México
O trabalho de consultoria de Luc fez o casal firmar residência na Cidade do México há dois anos. Mas bem antes disso, foram duas décadas vivendo entre Cingapura, Japão e Hong Kong, o que leva os dois a uma preocupação maior com as amizades que selaram ao longo desse tempo. “Luc viajou várias vezes a Wuhan e, por isso acompanhamos desde o princípio a evolução da epidemia. Como vivemos muitos anos na região, mantemos contato constante com nossos amigos para termos notícias de suas famílias e ficarmos a par da situação”.
Os primeiros casos de Covid-19 no México, conta a pelotense, foram importados dos Estados Unidos e Europa, em fevereiro deste ano. A fronteira terrestre é enorme entre México e Estados Unidos e, em especial a cidade de Tijuana. Puebla foi um dois primeiros grandes focos de coronavírus do país, causado pelo retorno das férias de ski, no Colorado (EUA) de pessoas contaminadas com a Covid-19. “Obviamente que já era do conhecimento público a situação de pandemia mundial e a evolução da doença em países como Itália, Espanha e França, portanto sabíamos que inevitavelmente chegaria ao México e que o isolamento seria necessário”, relata.
A postura do governo mexicano, num primeiro momento, foi de minimizar a pandemia para não assustar a população, relata. Luísa lembra da declaração irresponsável do governador de Puebla, Miguel Barbosa, que afirmou em uma entrevista que a Covid-19 era uma doença de ricos e que as pessoas mais pobres não seriam atingidas pois seriam imunes.
A pelotense diz acreditar que o presidente do país, Andrès Manuel López Obrador, desejou, por razões de ordem política e econômica, evitar o pânico na população, retardando a tomada de decisões para não afetar a economia, visto que no México, assim como no Brasil, grande parte da população vive em situação de extrema pobreza. Porém, com o aparecimento do primeiro caso, as medidas de distanciamento social foram imediatamente adotadas e o presidente não interferiu nos procedimentos das autoridades sanitárias, embora não tenha feito nenhuma declaração oficial abertamente favorável ao confinamento. Escolas e universidades foram fechadas e, pouco a pouco, as empresas começaram a aderir ao trabalho a domicílio. As atividades culturais foram canceladas e os restaurantes e bares passaram a não abrir, ou somente abrir para entregas.
A quarentena
Quando está no México, o casal fica em um apartamento claro e arejado, no bairro de Juarez. “Meu marido trabalha em um dos quartos transformado em escritório e, além das atividades profissionais, participa diariamente de conferências online sobre assuntos diversos relacionados com o tema Covid-19, realizadas em diferentes países e continentes, por isso às vezes acordo as 5h30min para assistir uma conferência na Ásia.” Luísa mante-se conectada com um grupo de amigas de Tóquio, que uma vez por semana se reúne online para dançar juntas. A pelotense diz que o período tem ajudado a retomar contatos com amigos que estão longe e que há anos não vê. “Tenho um grupo whatsapp com minhas amigas de Pelotas e é sempre um prazer conversar com elas e matar a saudade.”
Quando tudo passar
“Obviamente temos consciência que vivemos em condições bastante privilegiadas, o que não é o caso de uma grande parte da população mundial. Por isso, é muito importante que sejamos solidários. Espero que em breve tenhamos uma vacina para combater este vírus, mas no momento atual é indispensável termos governantes responsáveis que apliquem as medidas necessárias de contenção da propagação da Covid-19 e que agilizem a implementação de programas econômicos visando as populações carentes, trabalhadores e empresas em dificuldade”, afirma.
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